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terça-feira, 12 de abril de 2016

No Caminho Com Maiakóvski

No Caminho Com Maiakóvski

Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.
Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas manhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.
Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.
Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.
E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita – MENTIRA!

Eduardo Alves da Costa
http://uivodaloba.blogspot.com

2 comentários:

Toninho disse...

Tão atual para o momento que vivemos.
Ironicamente o texto atribuído a Maiakovski amplamente recitado nos anos de chumbo do Brasil, hoje se volta contra os que o recitavam.
Faz parte do cíclico desta vida, tão cigana.
Nada como um dia apos o outro e a justiça continua a mercê do poder e fecha seus olhos sobre o menor, sobre o menos endinheirado.
Se o rei estava nu, a justiça se despiu de sua melhor toga para rodar bolsa numa esquina de banco.

Gostei da adaptação sem dó feita pelo Eduardo.
Abraços amiga.
Bjs

Valéria Russo disse...

Toninho, de fato nunca foi tão atual a bofetada em forma de poesia que o Eduardo fez, nosso país está com a justiça despida de sua honra e prostituída pelo dinheiro que compra a verdade e tenta nos enfiar goela abaixo sua podridão. Quem sabe ainda teremos aquele país que tanto lutamos e sonhamos um dia.
"libertas quae sera tamen"

Bjuivos no coração.

E AS LOUCAS HORAS

NÃO COMPRE ANIMAIS, ADOTE!!!BICHO É TUDO DE BOM .

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