
"Eu, alquimista de mim mesmo.
Sou um homem que se devora? Nao, é que vivo em eterna mutação, com novas adaptações
a meu renovado viver e nunca chego ao fim de cada um dos meus modos de existir.
Vivo de esboços não acabados e vacilantes.
Mas equilibro-me como posso entre mim e eu, entre mim e os homens, entre mim e o
Deus.
Vivo em escuridão da alma, e o coração pulsando, sôfrego pelas futuras batidas que não podem parar".
"Minha liberdade é escrever.
A palavra é o meu domínio sobre o mundo."
"A vida é igual em toda a parte e o que é necessário é a gente ser a gente."
"Como é ruim ser paciente, como eu tenho medo de ser uma "escritora" bem instalada,
como eu tenho medo de usar minhas próprias palavras, de me explorar..."
"Fiquei com vontade de chorar mas felizmente não chorei, porque quando choro fico
tão consolada..."
"Não se pode falar de silêncio como se fala de neve.
Não se pode dizer a ninguém como se diria da neve: Sentiu o silêncio desta noite ?
Quem ouviu não diz."
"Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir.
Não sou pretensiosa.
Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando..."
"Quando eu era criança, durante muito tempo pensei que os livros nascessem como as árvores, como os pássaros.
Quando descobri que existiam autores, pensei: também quero fazer um livro."
"Tenho várias caras.
Uma é quase bonita, outra é quase feia.
Sou um o quê? Um quase tudo".
"Eu só escrevo quando eu quero, eu sou uma amadora e faço questão de continuar a ser amadora.
Profissional é aquele que tem uma obrigação consigo mesmo de escrever, ou então em
relação ao outro.
Agora, eu faço questão de não ser profissional, para manter minha liberdade."
"E como nasci?
Por um quase.
Podia ser outra.
Podia ser um homem.
Felizmente nasci mulher.
E vaidosa.
Prefiro que saia um bom retrato meu no jornal do que os elogios."
"Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até
o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador.
Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada."
"Antes dos sete anos eu já fabulava e já inventava histórias.
Por exemplo, inventei uma história que não acabava nunca, é muito complicado explicar esta história.
Quando eu comecei a ler e a escrever, eu comecei a escrever também pequenas histórias."
"Eu misturei tudo, eu lia livro, romance para mocinha, livro cor de rosa, misturado
com Dostoievski, eu escolhia os livros pelos títulos e não por autores, porque eu
não tinha conhecimento...
fui ler aos 13 anos Herman Hesse, tomei um choque: O Lobo da Estepe.
Aí comecei a escrever um conto que não acabava nunca mais.
Terminei rasgando e jogando fora."
"Quando eu me comunico com criança é fácil porque sou muito maternal.
Quando me comunico com adulto, na verdade estou me comunicando com o mais secreto de
mim mesma, daí é difícil...
O adulto é triste e solitário.
A criança tem a fantasia muito solta."
"Em uma outra vida que tive, aos 15 anos, entrei numa livraria, que me pareceu o
mundo que gostaria de morar.
De repente, um dos livros que abri continha frases tão diferentes que fiquei lendo,
presa, ali mesmo.
Emocionada, eu pensava: mas esse livro sou eu!
Só depois vim a saber que a autora era considerada um dos melhores escritores de
sua época: Katherine Mansfield."
"É preciso coragem.
Uma coragem danada.
Muita coragem é o que eu preciso.
Sinto-me tão desamparada, preciso tanto de proteção...
porque parece que sou portadora de uma coisa muito pesada
. Sei lá porque escrevo! Que fatalidade é esta?"
"O ato criador é perigoso", disse numa entrevista, "porque a gente pode ir e não
voltar mais.
Todo artista sofre um grande risco. Até de loucura."
"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa.
Não altera em nada...
Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas.
A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..."
"Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se
der amor e às vezes receber amor em troca."
"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é possível fazer sentido.
Eu não: quero é uma verdade inventada."
Clarice Lispector
"NUNCA FALARAM TANTO A RESPEITO DE MIM SEM SER EU MESMA".....LOBA